quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ESTAMOS COM FOME, MAS VAMOS TER QUE FAZER NOSSO PRÓPRIO ALIMENTO

Assustei-me ao perceber, em conversa com pesquisadores franceses da Comunicação (durante o Colóquio Brasil-França, dentro do Intercom 2009), que Educomunicação se não incipiente, nem é discutida na França (com raríssimas exceções, como o caso da Professora Geneviève Jacquinot Delaunay, que foi um dos pilares de desenvolvimento da minha dissertação).

O “primeiro-mundo”, economicamente falando, não parece tão primeiro mundo ao analisarmos sua produção em pesquisa científica contemporânea.

Não pude evitar um misto de tristeza e alegria. Tristeza porque não teremos fontes tão sólidas para consultar e ter por ponto de partida, mas feliz por contemplar a possibilidade de estarmos na linha de frente no que diz respeito à pesquisa em Comunicação e, também, Educomunicação.

Publicidade? Relações Públicas? Produção Editorial? Rádio e TV? Habilitações que conhecemos, e que têm sua produção científica no Brasil crescente, são ignoradas na França. O jornalismo NÃO.

PPs, RPs, PEs, não se comunicam? Não têm compromisso com as teorias da comunicação e com seus públicos?

Ainda estou sem entender.

Se eu quiser fazer o Doctorat francês, terei de abandonar minha habilitação (Publicidade e Propaganda) e me contentar em olhar para o Jornalismo ou para a Comunicação de forma mais abrangente (nem tão abrangente assim).

Sempre fui apaixonado pela Comunicação justamente por sua abrangência e por permear todas as atividades e áreas do conhecimento humano. Se pensarmos em Educação então, é imprescindível pensar a Comunicação. Mas o que é Educomunication (leia-se em francês)?

O pior é que sempre depositamos muita expectativa naqueles que têm mais longa data num caminho percorrido. Mas a lógica não cabe em todos os casos.

A palestra do pesquisador Dominique Wolton era uma das grandes expectativas para este que é o congresso mais importante da área de comunicação no Brasil. Como resultado, transcrevo o tweet (9:10 PM Sep 4th) do Professor André Lemos (UFBA): “argumentos básicos, tese conhecidas por todos”.

E apesar de gostar muito do trabalho de Wolton, devo concordar com Lemos.

Chegou a hora do “terceiro-mundo” mostrar seu potencial e sua capacidade na pesquisa científica. Mostrar que temos nos aprofundado em discussões em diversas vertentes da Comunicação.

No entanto, nem tudo é desfavorável no que foi dito e percebido dos franceses neste Intercom. Já que, parafraseando o Professor Wolton, a comunicação mais simples é a técnica e a mais complexa é a humana.

Existe uma preocupação francesa grande em estudar melhor a comunicação one to one, as relações interpessoais. A base da comunicação.

Nós brasileiros, podemos tomar isto como exemplo para deixarmos um pouco as inúmeras pesquisas relacionadas aos meios, mensagens e mediações e pensarmos mais a respeito do elemento fundamental da comunicação: o ser humano.

Este é meu discurso em todas as minhas aulas, independentemente do conteúdo ministrado.

Sempre que toco neste ponto, lembro-me das referências ao Professor Norval Baitello Junior, defensor de que o corpo humano é a primeira mídia.

Sem o ser humano, as outras mídias, as tecnologias, são vazias e sem valor. Passou da hora desta consciência fazer parte de todos, na Comunicação e na Educação.

Paulo Negri Filho

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